5 - ANO SEGUINTE NA MESMA SÉRIE EM OUTRO TURNO

                Começou um novo ano e a minha turma agora era a 6a 5a na sala 7, no mesmo prédio velho. Nesse ano eu conheci novos colegas, um deles se chamava Fabiano, descendente de japoneses. Ele ficou sabendo sobre a Vanessa mas não a conhecia. Foi um ano de muita saudade dela. Conheci o Daniel que também gostava de filmes de terror e não conhecia a Vanessa, mas ficou sabendo da minha gamação por ela. Ele soube tudo sobre minha amada: que ela era a única que eu amei, que eu amo e que eu amarei (na época eu não acreditava que pudesse amar outra). Eu nunca havia me apaixonado por outra. Eu não conhecia outra bonita como ela. Não conhecia nem iria conhecer outra igual, escrevi na época. Mesmo que ninguém me compreenda eu não vou largar dessa ideia, pois isso é verdade.


                Neste ano minha mãe, eu e minha irmã viajamos para Londrina na casa de uma tia, irmã dela. Até comentei com uma das minhas primas sobre a Vanessa que eu gostava. Viajei pela primeira vez em um ônibus confortável da Viação Ouro Branco, vinha de Cornélio Procópio a Curitiba fazendo parada em Londrina. Não era leito mas se não me engano tinha cobertor, coisa que nem a Viação Garcia oferecia em ônibus convencionais. O modelo era igual aos da outra empresa que conhecíamos e na qual viajava desde bebê: Scânia de motor dianteiro e carroceria Diplomata. No ano anterior nem tinha ido ao Norte do Paraná, éramos pobres mesmo, mais que hoje. Nem carro tínhamos na época. A grande melhora que houve neste ano foi que terminaram a nova casa nossa e mudamos de uma meia água de madeira para uma quatro águas de alvenaria com banheiro dentro e com bidê, minha mãe fez questão de tê-lo para fazermos a higiene das partes íntimas. Sábia decisão dela, até hoje tenho bidê na minha atual casa.


                Fiquei triste nesse turno. Além de eu passar quase um ano sem vê-la, eu não gosto de estudar de tarde mas de manhã, no turno que ela estuda. Quase sempre eu ficava pensando nela em todo lugar e com muita saudade. Abaixo transcrevo umas frases que escrevi no caderno na época, a folha rasgou e perdi uma parte:

Você é a menina mais linda que eu já encontrei.

Gosto do seu sorriso, por ser muito bonito.

E os seus olhos nem se fala

O seu nome que é uma graça

A sua voz que eu gosto tanto de ouvir...


                Por dificuldades de aprendizagem e comportamento fui chamado a vir a um atendimento especial no turno da manhã. Os alunos que tivessem essas dificuldades deveriam vir a essas aulas. A aula especial terminava ao bater o sinal para começar o recreio. E já vim pensando em encontrar o meu amor. Mas eu ia embora ao bater o sinal. Vi só algumas amigas dela, em nenhum desses dias eu vi ela e já comecei a me entristecer. Apesar que eu tinha lá minhas alegrias e senti muitas saudades de certos colegas nos anos seguintes. Passeei com este Fabiano e com o Cláudio amigo dele pela região, fomos olhar os magníficos prédios da ordem Rosa Cruz Amorc com seu estilo egípcio e sua cor rosa, que me chamaram muito a atenção, sempre me interessei pelo antigo Egito. Queríamos entrar mas a pessoa responsável falou que crianças não podiam entrar lá. Muito tempo demorou para eu entrar no museu egípcio deles quando já era maior de dezoito anos, mas nunca me interessei em me filiar a esta Ordem Rosa Cruz.


                Eu demorei a amadurecer, fazia certas coisas na escola que depois de adulto jamais faria. Uma vez aprendi com meu primo Jairo a fazer uma chave que emitia um estouro. Era daquelas de guarda roupa que havia um tipo de furo na extremidade que era colocada na fechadura. A gente pegava um prego que entrava justo no buraco ou furo, amarrava com um barbante a chave e o prego, uma das extremidades do barbante na chave e a outra no prego. Aí enchia de pólvora raspada dos palitos de fósforo o furo da chave, encaixava o prego com a ponta empurrando para dentro e segurava o conjunto pelo barbante, de modo que a chave e prego encaixados ficavam pendurados. Aí a gente embalava o conjunto fazendo bater contra uma parede pela cabeça do prego. Desse modo a ponta dele amassava a pólvora fazendo um estampido parecido com uma bombinha de festa junina. Eu trouxe para a escola e o Fabiano achou engraçado, fez a chave bater na parede perto do quadro negro na sala de aula, kkk! Logo depois entrou o Diretor Auxiliar do turno vespertino perguntando quem estourou bombinha lá dentro.


                Certos dias eu ficava muito triste. E quando chegava à noite eu estava em casa, longe da minha amada que parecia ser quase tudo em minha vida. Era a maldita saudade me ferindo o coração, se aliando à tristeza e à solidão. Era aquela lembrança triste da Vanessa que estava longe de mim. Quando eu me deitava triste como doía meu coração. Eu não resistia, chorava mesmo. Não chorava por qualquer coisa não, não chorava fácil. Mas aquela saudade e tristeza me ferindo não me deixavam resistir.


                Ah! Mas um dia à tarde eu e o Fabiano estávamos na Orientação Educacional da escola, sentados em um sofá. E então aconteceu uma surpresa... eu não esperava por aquilo... percebi que alguém vinha vindo. Olhei para a porta que estava aberta e de repente ela entrou. A minha querida e amada Vanessa! Estava naquele dia linda como sempre, com uma calça de Educação Física, tênis azuis, camiseta de malha branca e cabelos presos para trás por uma presilha. Me deixou alegre. Ela chegou bem de frente comigo e falou:

                ➖ Ôi Adial, não se lembra mais de mim, a Lucilene metida?

                ➖ Lembro sim. Ah... eu parei com essas bobeiras.

                ➖ Ah bom! (Acho que foi isso ou quase isso que ela me respondeu).

                    Aí a orientadora educacional com quem eu tinha problemas e dei graças a Deus depois de nunca mais a ver disse para a Vanessa:

                ➖ Parou mas inventou outras.

                Me deu uma raiva daquela professora orientadora!

                Nesse dia fiquei um pouco encabulado quando a Vanessa falou comigo mas fiquei apaixonado. Contei esse fato ao Daniel e ele ficou querendo conhecê-la. O Fabiano também a achou muito bonita. Eu já tinha ficado constrangido antes, porque em uma aula de Estudos Sociais, se não me engano era a última daquele dia... eu estava falando com o Fabiano sobre a Vanessa e um aluno da sala chamado Álvaro ouvindo nossa conversa ficou querendo saber do que se tratava. Ele tinha estudado na 6a 2a também, a turma do ano anterior onde ela estudou e portanto a conhecia. Ele estava agora na mesma classe que eu por ter reprovado como eu a sexta série. Um outro dia eu estava na sala 8, em uma aula de Técnicas Agrícolas e falando com o Daniel. E o Álvaro olhando para mim perguntou:

                ➖ Viu, como que vai a Vanessa?

                ➖ Não sei, que Vanessa?

                ➖ Aquela tua namorada.

                ➖ Não é não (eu respondi tentando desconversar).

                ➖ Tá gamadão nela né?

                Eu comecei a desviar o assunto mas ele não permitia e começou a falar o nome dela alto mas em tom de brincadeira. Perguntei ao Daniel quem tinha contado da Vanessa para ele. Ele disse que achava que foi o Fabiano. Aí eu perguntei a este último porque ele tinha contado para o outro. Ele disse que o Álvaro o tinha pressionado na saída e ele contou. 


                Sempre que eu falava com o Daniel sobre ela e ele falava o nome dela meio alto eu o interrompia:

                ➖ Êpa, cale a boca!

                Este meu amigo confidente achou engraçado este jeito meu, pois eu falava depressa e de um jeito gozado mesmo.


                Quase no fim daquele ano eu estava para fazer a matrícula e o Fabiano veio me trazer uma notícia repentina:

                ➖ Adial! Ela está lá fazendo matrícula!

                ➖ Ela quem?

                ➖ A Vanessa!

                Ele começou a me dizer para eu ir lá, que ele queria me ver falando com ela. Eu demorei a a fazer a matrícula e nem cheguei a vê-la naquele dia. Fiz a matrícula para o turno da manhã, pois eu tinha uma ideia fixa que ia encontrá-la no ano seguinte. Queria vê-la o ano todo como foi no ano anterior, mesmo sendo nos intervalos, recreio, entrada e saída. No último dia de aula eu vi uma lista de alunos de várias turmas. Procurei as listas das sétimas séries. Em uma delas no número 39 lá estava o seu bonito nome: Vanessa Ferretti. E a data do seu nascimento, da qual nunca mais esqueci. Ela passou de ano é claro, pois é muito responsável. Neste ano eu tinha prometido para a minha mãe que passaria sem recuperação e cumpri a promessa. Mas nem por isso fiquei muito alegre. Voltei para casa triste, ia passar as férias todas sem vê-la. Cheguei em casa e fui assistir televisão para me acalmar. Mas no ano seguinte eu iria encontrá-la como havia tratado com o Daniel de estudarmos de manhã para eu mostrá-la para ele, pois ele queria conhecê-la. E passei o fim daquele ano em casa.


                Continua no ano seguinte...

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