3 - UMA GRANDE DESCOBERTA: ME APAIXONEI PERDIDAMENTE PELA PRIMEIRA VEZ

                        Para descrever a primeira grande crise amorosa e existencial que tive na vida, vou recorrer além da minha memória ao que restou de um velho caderno escolar que separei na época para escrever tudo que acontecia a respeito. O bom disso é que terei aqui registrado o que anotei na época, de acordo com a minha visão da vida desde quando era um pré-adolescente de doze anos até quando era um adolescente de dezessete (acho que continuei até mais ou menos esta idade).


                Desde a primeira até a quarta série do Primeiro Grau (hoje Ensino Fundamental), eu estudei numa mesma escola. A partir da quinta série fui transferido para outra escola que era próxima da casa dos meus avós paternos e onde estudavam dois primos meus. Tinha onze anos e meio. Estudei esta série no turno da tarde. No ano seguinte passei a estudar de manhã e já estava com doze anos e meio (nasci no mês de julho). No pátio formamos fila, naquele tempo havia esse sistema. Organizadas as turmas fomos encaminhados às nossas salas de aula, que ficavam no prédio antigo da escola, uma construção dos anos quarenta ou cinquenta do século XX (segundo um morador a escola foi fundada em 1955). Nos fundos havia um prédio mais novo de dois andares. Na fila no pátio eu ainda não havia notado a menina que durante anos a fio foi a garota da minha vida, a escolhida do meu coração, a tão bonita e amada... vou aqui mudar um pouco o texto da época e usar um nome fictício para ela, a chamarei de Vanessa Ferretti.


                Num dos primeiros dias de aula houve uma votação para a escolha dos representantes de turma. Eram um menino representante e outro vice-representante, bem como uma menina representante e uma vice-representante. Nossa turma era mista, de meninos e meninas como foi em quase todos os meus anos de escola e colégio. Os alunos que tinham este cargo eram os responsáveis por tarefas como anotar para a professora ou professor o nome de quem não se comportava na sala na ausência deles, levar recados e até fazer a chamada no caso acho que de atraso ou ausência do mestre, fora outras tarefas. Acho que era uma maneira de nos ensinar a ter responsabilidade desde cedo. Todos os alunos escreveram os nomes de um aluno e de uma aluna em um papelzinho e o entregaram à professora. Se não me engano o menino mais votado seria o representante e o segundo mais votado seria o vice, assim como as meninas seguindo o mesmo raciocínio. E a Vanessa foi eleita a representante. Foi a mais votada. Eu não votei nela porque não a conhecia, nem a tinha notado bem ainda, acho que era uma turma de cerca de quarenta alunos.


                Até hoje me lembro da grande descoberta que tive na vida, diferente de tudo que havia sentido antes... Lembro que eu estava sentado e ela falando na frente da sala. Era uma menina extremamente bonita e com um sorriso encantador, dentes branquinhos, o lábio inferior mais carnudo que o superior, um olhar vivo, firme e penetrante, cabelos lisos, castanho escuros e curtos, pele clara e sem manchas ou espinhas, uma voz agradável de se ouvir... era acho que pouca coisa mais baixa que eu. Ela deu uma risada ao falar e eu estava fixo observando... comecei a sentir um contentamento muito intenso tomando conta de mim e até esbocei um sorriso. Foi uma paixão a primeira vista. Na verdade a primeira vista que tive de frente com ela, não a havia visto de frente detalhadamente como neste dia. Nos primeiros dias ela usava uma blusa amarela, calça jeans e aqueles cabelos curtos e bonitos como sempre eram. Era muito elogiada por quase todos pela sua beleza fora do comum (não era só eu que a achava linda). No entanto os alunos também a achavam metida e muitos continuavam fazendo bagunça na sala talvez para provocá-la. Ela escrevia o nome dos bagunceiros no quadro. Ela tinha um gênio forte, se irritava fácil com certas coisas. Nossa turma era a 6a 2a, ou seja, a segunda turma da sexta série do primeiro grau. 


                Ah mas era bonita essa guria! Naquele ano que eu soube o que era a paixão! Sempre que ela ficava na frente da sala eu a ficava observando, fascinado pela sua beleza. Desde as primeiras vezes que a vi eu já fiquei gamadão nela. Sua beleza era incomparável, e o amor que eu sentia por ela não era possível descrever nestas páginas. Só quem já passou por um igual para compreendê-lo. Ela era a menina mais linda que eu já encontrei. Gostava daquele seu sorriso por ser muito bonito. E os seus dentes como eram lindos! Bem brancos e conservados. Os seus olhos nem se fala! O seu rostinho tão lindo. A sua altura e o seu jeito de andar. O jeito que ela me olhava. Eu gostava também dos seus cabelos curtos.


                Certa vez eu e um aluno da minha sala, o Vagner, estávamos conversando. Ele perguntou quem eu achava a menina mais bonita da nossa sala e depois falou: a minha é a Vanessa! E nesse momento a Vanessa estava na frente do colégio também, encostada na parede e falando com suas amigas. Nós estávamos encostados no muro. Ela estava de blusa amarela, com aquele seu sorriso tão bonito como ela. Eu fiquei olhando para ela apaixonado, encantado pela sua beleza.


                Vários alunos e alunas não gostaram muito do jeito dela, às vezes ela tinha crise de nervos e chorou uma vez na sala por causa da turma não a respeitar. Quiseram tirá-la do cargo de representante, uma vez fizeram até abaixo-assinado para lhe tirar do cargo, mas felizmente não adiantou.


                Não sei hoje explicar porque, mas eu também gostava muito de provocá-la. A apelidei de Lucilene metida. Mas ela era um pouco metida. Ela já me entregou algumas vezes à professora, mas eu gostava dela assim mesmo. Eu é que era o culpado: conversava, dava gargalhadas e brincava muito em sala de aula. Me comportava mal e recebia o que merecia pensei e escrevi na época.


                Nas proximidades, já no bairro vizinho havia uma região de chácaras e mata em sua grande parte. Algumas árvores mais na frente eram exóticas e plantadas, como a carreira de enormes ciprestes. No outro lado havia uma região plana sem árvores onde outrora havia uma grande lagoa artificial, Havia também um barracão bem antigo perto onde se não me engano funcionou um moinho com uma roda d'água para fazê-lo funcionar. Mas o que me chamava também a atenção era uma casa antiga bem perto e no meio do bosque, da qual dava para se ver apenas um tipo de torre. A gente apelidava de castelinho e eu ficava muito curioso para ver dentro como era. Adoro até hoje lugares assim, inclusive me lembrava velhos filmes de terror e suspense, histórias de fantasmas, de vampiros e outras parecidas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

9 - DESPERTANDO A CURIOSIDADE DE ALUNOS E ALGUNS PROFESSORES COM O CADERNO QUE EU SEMPRE ESCREVIA...

2 - MINHA INFÂNCIA : JÁ OBSERVAVA MULHERES!